Desde 2000, alguns produtores de uva rústica (niagara rosada) da região paulista de São Miguel Arcanjo têm optado por um planejamento de podas, no intuito de colher duas safras no ano. No geral, o viticultor programa entre 50% e 60% do seu vinhedo para fazer a poda de produção após o inverno, entre agosto e setembro, visando a safra principal, colhida de dezembro a março. O remanescente do vinhedo é alocado para a poda de produção da safra temporã, chamada também de “poda verde”, porque ela é realizada em um ramo ainda não completamente lignificado. Esta atividade, por sua vez, ocorre entre novembro e dezembro, para que a produção seja comercializada de abril a maio, período de transição entre a safra paranaense e as das regiões de Jales (SP) e Pirapora (MG). Nessa época de transição, os valores da fruta normalmente são superiores aos observados no início do ano.
O principal objetivo desse planejamento de podas é que ele permite ao produtor estender o seu calendário de manejo e de comercialização, diminuindo o número de mão de obra temporária quando comparado a uma safra mais concentrada. Além disso, a extensão do calendário de colheita expõe o produtor a um menor risco de preços baixos. Assim, no geral, o produtor consegue um fluxo de caixa mais equilibrado entre as receitas e as despesas do seu empreendimento.
Outras regiões brasileiras, como a Depressão Central no Rio Grande do Sul, também realizam uma poda seca no inverno seguida por uma poda verde de produção, visando duas safras de uva niagara rosada e a consequente ampliação do calendário de comercialização da fruta no mercado nacional.
Vale a pena realizar a poda verde?
O estudo de caso relatado nas páginas 12 e 13 do Especial Frutas da Hortifruti Brasil (acesse aqui para ver a edição na íntegra) avalia os custos da safra principal versus temporã (verde) de 2015 na região de São Miguel do Arcanjo. Apesar de a metodologia contemplar a realidade de uma única propriedade, as considerações gerais a respeito da viabilidade da poda podem se estender a outros produtores da região paulista.
Neste estudo de caso, observou-se que o custo da safra temporã, principalmente por conta da menor produtividade, é quase o dobro do valor da principal por quilo de uva colhida. No entanto, a produção temporã apresenta duas vantagens importantes: a divisão da área em duas safras dilui as despesas gerais e o custo fixo e reduz a demanda por mão de obra tanto para o manejo quanto para colheita. Além disso, essa estratégia diminui o risco de prejuízos na venda, já que amplia o calendário de colheita.
O início do ano é um dos períodos de menor preço da uva e é o momento que coincide com parte da colheita principal da região. Com a poda verde, o produtor consegue alocar parte da sua produção para um período de menor risco de baixos preços (abril e maio). Além disso, o presente estudo de caso não simulou todos os custos implícitos de uma única safra na praça paulista. No geral, espera-se que o custo de uma única safra (a principal) seja muito superior, visto que exige mais mão de obra, por conta da concentração dos tratos culturais e colheita. Mesmo que o produtor não opte por podar a área total para fazer uma única safra, o custo é maior frente ao apresentado para duas safras, já que todo o custo fixo será concentrado na área que foi podada.
Vantagens x Desafios
A vantagem da “poda verde” é permitir ao produtor estender seu calendário de comercialização. No entanto, no caso estudado nesta edição para a região de São Miguel Arcanjo, o manejo da produção da temporã requer mais cuidados em relação à safra principal, visto que o desenvolvimento vegetativo ocorre em período de clima mais úmido e propício a doenças, como o míldio, que podem resultar em severas perdas de produtividade. Ou seja, há necessidade de maior número de pulverizações. Outro ponto que requer cuidado do produtor é a frequência de realização desta poda, que deve ser realizada no mínimo a cada dois anos para evitar a exaustão
da planta e redução da vida útil.