As águas de março vieram para fechar mais um verão. Felizmente, neste ano, as chuvas têm sido mais volumosas e trouxeram consigo boas expectativas para a produção hortifrutícola. Contudo, pouco tempo atrás, a falta de água era severa e causava sérios prejuízos às lavouras de frutas e hortaliças, sobretudo no Nordeste e Sudeste do País.
Passado aquele período difícil, com a chegada de boas chuvas de primavera e verão, será que é possível dizer que não existe mais crise hídrica? Abaixo, leia o resumo da situação hídrica no Nordeste e no Sudeste. Uma análise completa está disponível na edição de março da Revista Hortifruti Brasil em: https://www.hfbrasil.org.br/br/revista.aspx.
NORDESTE E NORTE DE MINAS GERAIS:
No Nordeste e norte de Minas Gerais (que pertence ao Sudeste, mas tem características edafoclimáticas semelhantes às do Nordeste), a maior parte dos reservatórios de médio e grande porte estava com menos de 30% de sua capacidade preenchida no final de fevereiro.
Apesar desse quadro preocupante, a Bahia tem situação relativamente favorável. Produtores da Chapada Diamantina (BA), por exemplo, temiam que as irrigações de culturas como batata e tomate tivessem que ser interrompidas neste início de ano, dado o baixo nível da barragem do Apertado no final de 2015. Contudo, alterações climáticas trouxeram chuvas volumosas. No final de fevereiro, a barragem já estava com mais de 40% de sua capacidade preenchida, conforme dados do Portal Hidrológico do Nordeste. Segundo colaboradores do projeto Hortifruti/Cepea, este volume é suficiente para que 2016 seja um ano tranquilo quanto à disponibilidade de água para a agricultura local. De modo geral, as chuvas recuperaram o lençol freático na Bahia e trouxeram alívio para produtores também de Irecê (BA), onde predomina a utilização de poços para o abastecimento.
A variedade de hortifrutícolas produzidas no Vale do São Francisco, como banana, cebola, melão, mamão, manga e uva, sentiu o impacto da falta de água nos últimos dois anos, fosse em redução da área ou em produtividade. Felizmente, o volume útil do reservatório de Sobradinho subiu neste início de ano, trazendo alívio para produtores. No final de março, dados da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf) mostravam que o reservatório estava com mais de 30% da sua capacidade preenchida, o que é superior ao nível do mesmo período do ano passado e também ao de janeiro deste ano. Apesar disso, o atual nível está longe de ser “confortável”, pois é justamente no primeiro semestre que o reservatório atinge as porcentagens mais elevadas, com tendência de decréscimo no segundo semestre.
Conforme consultores entrevistados pela equipe Hortifruti/Cepea, a instalação de motobombas flutuantes, feita em caráter emergencial no ano passado para garantir abastecimento lavouras de frutas e hortaliças caso não houvesse uma recuperação do lago de Sobradinho, combinada com o nível atual do reservatório dão certa tranquilidade aos produtores. A expectativa de consultores é de que não haja problemas para as irrigações em 2016.
SUDESTE:
No fim de 2015 e início de 2016, o Sudeste também recebeu boas chuvas, principalmente no mês de janeiro, quando as precipitações ficaram bem acima da média histórica.
No Rio de Janeiro, de acordo com levantamentos da Agência Nacional de Águas, os reservatórios do rio Paraíba do Sul, o mais importante do estado, apresentavam nível considerado satisfatório em meados de fevereiro, em sua maioria superior a 70% da capacidade.
No estado de São Paulo, também houve boa recomposição dos reservatórios. O sistema Cantareira saiu do volume morto no final de 2015, após quase 600 dias de utilização da reserva técnica em quase dois anos de crise hídrica. No início de março, pouco antes do fim do período de chuvas, o Cantareira estava com 53,2% da sua capacidade; o sistema Alto Tietê contava com 34,6% e o Guarapiranga, com 84,6%. Contudo, o nível desses reservatórios, sobretudo do Cantareira e do Alto Tietê, supera apenas o de 2015, mantendo-se bem abaixo das marcas de outros anos.
Tanto em São Paulo quanto no Rio de Janeiro, a falta de água em 2014 e em 2015 fez com que produtores tomassem medidas que auxiliassem na economia desse insumo. A instalação de sistema de irrigação por gotejamento é um dos principais exemplos. Com o aprendizado recente, pode-se dizer que, em geral, produtores paulistas e fluminenses estariam mais bem preparados para enfrentar uma nova crise hídrica.
Fonte: Elaborado pelos autores com base em dados da Sabesp
Na região do Triângulo Mineiro, a situação também melhorou. Entretanto, o reservatório de Nova Ponte, apesar de ter tido alguma recuperação, ainda está em situação crítica até o final de fevereiro, com volume útil de 30,4%. Nessa região, produtores usam a água de nascentes para a irrigação, mas, diante dos problemas de falta de água, investiram em técnicas alternativas de abastecimento, como a construção de barragens individuais e de “piscinas” para o armazenamento da água.
No Espírito Santo, as chuvas amenizaram a seca que perdurava até então. Conforme colaboradores do Hortifruti/Cepea, as precipitações foram volumosas na região serrana do estado (Venda Nova do Imigrante e Marechal Floriano) beneficiando lavouras de tomate e folhosas. Contudo, no norte do estado, onde se cultiva mamão, a chuva não foi suficiente para reabastecer as represas locais. Com isso, a região ainda enfrenta o risco de falta de água neste ano. Colaboradores do Cepea comentam que, até mesmo na região serrana, onde choveu mais, segue o alerta para a possibilidade de falta de água.
No balanço do Sudeste, mesmo em relação às áreas onde as chuvas foram mais intensas, ainda não se pode afirmar que um verão chuvoso tenha sido suficiente para sanar a falta de água. A previsão para a recuperação da disponibilidade hídrica no Sudeste é algo para médio-longo prazo.
Fonte: Hortifruti/Cepea