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Citros
Maio 23, 2024
CITROS/CEPEA: Três décadas de divulgação de preços e análises do mercado citrícola
Principais fatos que impactaram os preços da laranja comercializada à indústria paulista:

Por Hortifruti Brasil
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CITROS/CEPEA: Três décadas de divulgação de preços e análises do mercado citrícola Ver fotos

Piracicaba, 23 - Evolução histórica dos principais fatos que impactaram os preços da laranja comercializada à indústria paulista:

1994-2000: SAFRAS RECORDES: Uma nova estrutura de negociação na citricultura paulista surge em 1995/96: a comercialização da fruta posta no portão, na qual a colheita passa a ser de responsabilidade do produtor e as negociações são individualizadas, com o fim do contrato de participação. Foi um período marcado por excesso de produção em São Paulo e no Triângulo Mineiro. No final da década de 90, estimativa da CitrusBR apontou colheita de 438 milhões de caixas. Isso elevou os estoques de suco, havendo uma pressão de baixa significativa nos valores da commodity no mercado externo e também nos preços da laranja pagos ao produtor. Para se ter uma ideia, na temporada 1999/2000, a laranja foi negociada à média de R$ 2,00/cx posta na indústria (mercado spot) – o equivalente a R$ 14,00/cx a valores atualizados, corrigidos pelo IGP-DI. Em 1999, a área de laranja colhida em São Paulo foi de quase 777 mil hectares, de acordo com o IBGE, ou seja, mais que o dobro da atual, segundo estimativa do Fundecitrus.

2001-2005: FURACÕES NA FLÓRIDA & DOENÇAS EM SP: com a pressão nos valores da laranja no final da década de 90, produtores reduziram os investimentos; ao mesmo tempo, houve queda nos estoques de suco, elevando os preços ao citricultor no início dos anos 2000. A indústria fechou um bom volume de contratos em 2001 já válidos para três anos, visando garantir reposição dos estoques de suco de laranja. Mesmo com a recuperação da safra 2002/03 de laranja, a indústria teve que absorver uma grande parte da produção, já que os estoques estavam bastante reduzidos. Outro fator que contribuiu para a elevação do preço ao produtor no período foi a intensa temporada de furacões na Flórida entre 2004 e 2005, que impulsionou os valores externos. É importante ressaltar, também, que a expansão da safra paulista no período foi limitada pelo avanço de doenças nos pomares, com destaque inicial para a morte súbita dos citros, a CVC e o cancro cítrico. Nessa época, a citricultura começava a expandir no centro-sul de São Paulo (região central, próxima de Bauru, até Itapetininga, no sul), por conta sobretudo da morte súbita.

2006-2010: FLÓRIDA NÃO RECUPERA SUA SAFRA: Nos EUA, a Flórida não conseguiu voltar ao volume recorde produzido antes dos furacões das temporadas 2004 e 2005. Com isso, a oferta global de suco se reduziu significativamente, impulsionando os valores da commodity. Além dos furacões, o alastramento de doenças – como o cancro cítrico e o HLB (greening) – e a urbanização também reforçaram a diminuição da área citrícola da Flórida. No Brasil, mesmo em 2008, quando os contratos em dólar atingiram o maior valor da década, a maioria dos citricultores mantinha-se indeciso quanto à rentabilidade futura da atividade, freando os investimentos até que se tivesse um cenário mais consistente sobre o setor. Nesse período, já era visível o aumento dos custos, por conta dos cuidados fitossanitários e dos gastos com a colheita, mantendo as margens bem apertadas. Em São Paulo, no final dessa década, observa-se um avanço da atividade canavieira sobre as áreas tradicionais de laranja.

2011-2015: CRISE DE PREÇOS & SAÍDA DE CITRICULTORES: O aumento da incidência de HLB nos pomares de São Paulo e da Flórida e a queda da demanda mundial pelo suco colocam em discussão a sustentabilidade econômica do setor para os anos 2010. Entre as safras 2011/12 e 2014/15, a citricultura paulista vivenciou um grave período de “crise de preços”. E isso se deve a duas safras consecutivas (2011/12 e 2012/13) de produção elevada de laranjas em São Paulo, que resultaram em disponibilidade de suco muito acima do potencial de consumo apresentado pela Europa e Estados Unidos. Com isso, os estoques nacionais de suco se ampliaram, e os preços ao citricultor caíram. Além de os valores recebidos por boa parte dos produtores terem operado bem abaixo do mínimo para custear o pomar, muitos citricultores não conseguiram escoar toda a sua produção, diante da redução das compras por parte indústria. Assim, perdas significativas, especialmente de laranjas precoces, foram observadas na temporada 2012/13. Agentes do mercado estimam que de 30 a 40 milhões de caixas não foram sequer comercializadas, segundo registros das análises da Equipe Citros/Cepea da época. Nem mesmo ações governamentais – como os leilões de PEP (Prêmio para Escoamento de Produto) e de Pepro (Prêmio Equalizador Pago ao Produtor Rural) – foram suficientes para evitar uma forte evasão de produtores da atividade. Segundo dados da CDA (Coordenadoria de Defesa Agropecuária do Estado de São Paulo), em 2010, estima-se que haviam 18.274 propriedades de citros no estado, contra 11.472 no primeiro semestre de 2015. Ou seja, em apenas quatro anos, 6.802 propriedades deixaram de cultivar citros no estado de São Paulo. A saída de inúmeras fazendas da atividade impactou não apenas o negócio e o patrimônio dos produtores, mas teve também efeitos socioeconômicos, sobretudo em municípios que dependem muito da atividade agrícola e que tinham como principal cultura a laranja.

2015-2020: RETOMADA DOS PREÇOS & INCERTEZAS NA PRODUÇÃO: Depois de cinco temporadas seguidas de baixa remuneração, os preços mais atrativos da laranja na safra 2016/17 aliviaram o fluxo de caixa do citricultor. No entanto, essa recuperação nos valores não garantiu a permanência de uma parcela de produtores na atividade, tendo em vista o aumento da incidência do HLB, que reduziu a produtividade dos pomares. Neste período, a citricultura passou por uma remodelação muito significativa. O HLB exigiu uma mudança nas formas de gerir e de manejar os pomares, elevando os custos da cultura, aumentando a escala de produção das propriedades e ampliando os investimentos na formação dos pomares e nos números de maquinários (tratores) e implementos (pulverizadores). Todo esse manejo mais intensivo, por outro lado, tem garantido ganhos de produtividade (quando a pressão do HLB é baixa) e viabilizado muitos projetos no setor citrícola. Essa “receita” de alta tecnologia, contudo, tem um preço: o produtor não consegue reduzir seus custos (especialmente com manejo do pomar) em um momento de aperto financeiro. Além disso, o pacote de alta tecnologia da citricultura atual não suporta riscos elevados, como ocorreu no passado recente, com variações elevadas na receita advindas de fortes oscilações no preço médio ou na produtividade. Além disso, esse modelo é mais adaptado a propriedades de maior escala de produção, diminuindo a participação dos produtores de pequena escala e familiares na atividade citrícola. No âmbito global, a Flórida perdeu sua relevância como um importante produtor de suco, visto que o HLB avançou agressivamente nos pomares locais (chegando a praticamente 100% das árvores infectadas), caindo de uma produção máxima de 244 milhões de caixas em 1997/98, para apenas 67,4 milhões em 2019/20, segundo o USDA.

2021-2025: PREÇOS RECORDES – Pode-se afirmar que existe um consenso de que a rentabilidade da citricultura no cinturão de São Paulo e do Triângulo Mineiro está melhor do que há 10 anos. Os preços da laranja à indústria podem alcançar, em 2024, máximas de R$ 75,00/cx, posta na fábrica – valor recorde real da série do Cepea, iniciada em 1994. Ao contrário do verificado na década de 2010, a razão para o cenário atual começou com duas safras consecutivas de baixa produção no cinturão (2020/21 e 2021/22), que reduziram significativamente os estoques de suco de laranja, seguidas de duas safras dentro da média (2022/23 e 2023/24), que não foram suficientes para recompor o volume armazenado. Agora em 2024/25, novamente, a região não deve colher uma produção elevada, o que aumenta as preocupações quanto à oferta global de suco de laranja, cada vez mais dependente do Brasil após o forte declínio na produção de laranjas (e de suco) da Flórida. Atualmente, não há grandes países com pujança para compensar a redução de oferta de suco verificada nos últimos anos, e, mesmo com a queda da demanda mundial, a disponibilidade da commodity ainda é inferior à procura. Assim, mesmo com o ápice do HLB previsto para 2024, o poder de compra do produtor hoje – investimentos/custos versus receita – é muito positivo (veja a análise da página 14). Essa perspectiva está ampliando a renovação dos pomares e novos investimentos, inclusive fora dos polos citrícolas tradicionais, como os estados de Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. A Flórida finaliza a safra 2023/24 com apenas 18,8 milhões de caixas, alta de 15,9% frente à temporada anterior. O cinturão paulista e Triângulo Mineiro fecha com 307,22 milhões, queda de 2,2% em relação à temporada anterior.

Saiba mais lendo a matéria de capa completa da revista Hortifruti Brasil.

Fonte: hfbrasil.org.br

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