Piracicaba, 12 – HF Brasil entrevista Elena Ozeritskaya* na edição de março, que fala sobre as tendências de consumo, visando o setor de frutas e hortaliças. Veja quais as oportunidades que ela destaca:
Hortifruti Brasil: A Geração Y (ou Millennials) pode representar 34% da população mundial até 2020. Como essa geração pode impactar nas compras de frutas e hortaliças nos próximos anos?
Elena Ozeritskaya: Os Millennials (Geração Y – nascidos entre 1980 e 1990) representam hoje o maior grupo em número de pessoas em comparação às demais gerações, como os Baby Boomers (pessoas nascidas entre 1950 e 1960) e Geração X (nascidos entre 1961 e 1980), e têm diferentes necessidades e hábitos. Para a Geração Y, as redes sociais são o seu “sexto sentido”, o que os leva a estar muito mais envolvidos sobre o que as pessoas dizem sobre marcas e produtos. Então, não é mais sobre o que a marca divulga sobre ela mesma, e sim sobre o que as outras pessoas estão dizendo em sites da internet – em que há avaliações sobre serviços e produtos. Novas marcas estão surgindo cada vez mais e é o momento de desenvolver marcas interessantes – muitos produtores já estão fazendo isso. Existem alguns bons exemplos na Holanda, como a "Tasty Tom" e "Van looije”,que criaram embalagens chamativas e uma marca de luxo em torno de um produto comum, que é o tomate. O que também se pode destacar sobre o Van looije Tomatoes é que, além da marca de produtos frescos, eles desenvolveram processados de tomate com a mesma marca – e o que eles fazem quando os produtos estão fora do padrão para o mercado in natura? Destinam à produção de catchup, como uma forma de reduzir o desperdício. É esse tipo de apelo que a Geração Y procura nas inovações. Não se trata apenas, por exemplo, de entregar um produto orgânico para esses consumidores (porque eles são muito interessados em orgânicos), mas de combinar o orgânico (ou o convencional) com conveniência, com novos e diferentes sabores, com elementos sustentáveis em termos de embalagem, com o fato de estar presente nas redes sociais – por isso, é importante que produtores e varejo tenham uma nova perspectiva, uma nova maneira de pensar nas oportunidades e desenvolver marcas que atraiam essa geração.
HF Brasil: Como produtores brasileiros de frutas e hortaliças podem se preparar para atender essa geração?
Elena: Pensar mais nos conceitos e valores que a Geração Y demanda. Acredito que combinar valores aos produtos, levando em consideração a opinião dos consumidores finais, pode trazer sucesso. E é por esse motivo que instruo e ajudo empresas, junto aos consumidores e a outros agentes da cadeia, a criar conceitos atrativos ao consumidor final – os quais, combinados a vários outros fatores, como sabor, sustentabilidade, orgânico, mídias sociais e marcas, podem se tornar estratégias bem-sucedidas.
HF Brasil: A Geração Y influencia outras gerações?
Elena: A Geração Y é a que mais apresenta mudanças em atitudes e comportamentos e a que mais influencia outras gerações. Um exemplo é o Facebook. Praticamente toda a Geração Y está nele e, agora, pessoas com mais de 50 anos também estão usando. Dessa forma, os Millennials acabam se tornando influenciadores e é por isso que eles são um grupo interessante para se focar em estratégias de venda. No entanto, se o desejo é desenvolver conceitos ou marcas de produtos orgânicos, é necessário segmentar: para os mais jovens, por exemplo, é preciso combinar o orgânico com conveniência e, para pessoas mais experientes, o orgânico é mais relacionado a benefícios à saúde.
HF Brasil: Mindfulness (escolha consciente) é a palavra para 2018 em termos de tendência de consumo. Como podemos traduzi-la para o setor de frutas e hortaliças?
Elena: Maior atenção, mais transparência e menor desperdício. Uma ação consciente é a comercialização de frutas e hortaliças “feias”, pois muitos consumidores dão valor a esses produtos. Existe uma marca bem-sucedida de sopas na Holanda chamada “KromKommer”, cujos ingredientes são alimentos que provavelmente seriam jogados fora por não estarem “uniformes” ou de acordo com os padrões de mercado. Portanto, acredito que ser consciente (mindfulness) é a chave para o sucesso, pois pode influenciar não só a população mais jovem como também outras, como as pessoas com mais de 50 anos e crianças. Por isso, é consenso que o produtor ou o varejista possa capturar esse valor nos seus produtores.
HF Brasil: O avanço da tecnologia na comercialização das frutas e hortaliças é uma grande tendência. Qual é o maior desafio que o setor de HF pode enfrentar diante dessa tendência?
Elena: É um desafio, mas também uma oportunidade. As pessoas, especialmente da Geração Y, querem ter acesso à comida tão rápido quanto acessar uma série na Netflix. Estão mudando seus conceitos em termos de compra de alimentos e demandam personalização. Outras gerações iriam até o supermercado, mas os Millennials querem que os alimentos venham até eles, independente do local em que estão (trabalho, escola etc.). Assim, atualmente, têm surgido cada vez mais serviços de entrega de alimentos, como é o caso do "Foodora" e "UberEats", que entregam o produto ou a refeição (e até o café) onde o cliente estiver, seja no escritório ou no lar. Essa tendência compete com o varejo tradicional. Existe o Picnic na Holanda, que entrega a compra de supermercado sem custos na casa do consumidor; então, não é necessário sair de casa para ir às compras. O “Hello Fresh" entrega ingredientes frescos em casa, com receitas, para que o consumidor possa criar suas refeições. Acho que esses serviços se tornarão cada vez mais importantes (de como vender e se conectar com os consumidores), então, produtores precisam descobrir como eles podem entrar nessa modalidade de negócio, e não se limitar apenas aos canais tradicionais de comercialização. O canal de comercialização tradicional terá um árduo trabalho no futuro, porque a Geração Y precisa ter alguma necessidade de ir até a loja; caso contrário, eles comprarão pela internet. Ir às compras precisa ser uma grande experiência – precisa ser divertido, inspirar, trazer conhecimento, seja sobre os alimentos ou sobre novas receitas, precisa ser memorável. Portanto, o maior desafio para o varejo tradicional é descobrir como se inserir nesta nova maneira de vender, criando seus próprios conceitos e formatos.
HF Brasil: A venda direta do produtor para o consumidor também é uma tendência?
Elena: Na Europa, muitos produtores vendem diretamente aos consumidores, que podem encomendar produtos on-line diretamente com eles. Toda semana surgem novos formatos de mercados de produtores, em que consumidores vão até a propriedade, podem colher seus produtos, conhecer melhor quem produz o alimento, conversar sobre as variedades e saber mais sobre o produto que está comprando. Esse conceito está crescendo muito rápido na Europa, e ambos os lados acabam ganhando com isso – é uma combinação de tecnologia com autenticidade. Esse tipo de comércio direto tem se tornado cada vez mais popular. Então, há desafios, mas certamente há muitas oportunidades.
*A russa Elena Ozeritskaya (que hoje vive na Holanda), com muita experiência na área de projetos de inovação, fundou em 2012 o Fresh Insight (www.fresh-insight.eu) com a missão de oferecer suporte às empresas, por meio de estratégias que se aproximam do seu público-alvo, especialmente os Millennials (nascidos de 1980 a 1990). Também é palestrante na área de tendências de consumo dos setores de alimentos e flores.
Fonte: hfbrasil.org.br