Piracicaba, 11 – Na edição de fevereiro, a Hortifruti Brasil entrevistou a jornalista Fernanda Vicentini*, especialista em comunicação com foco em marketing digital, social media, produção de conteúdo, PR e gestão e prevenção de crises, para entender a relação entre tomada de decisão na compra de produtos ou serviços e as redes sociais. Confira o conteúdo, na íntegra:
Hortifruti Brasil: Segundo o recente relatório "Global Digital Report 2019", da We Are Social, 57% da população mundial utiliza a internet, enquanto 45% dela também faz parte de alguma rede social. Hoje, com essas tecnologias, muitos hábitos e comportamentos das pessoas foram alterados. Em sua opinião, como essas mudanças têm afetado especificamente os hábitos de consumo da população?
Fernanda Vicentini: A tecnologia, a internet e as redes sociais têm afetado os hábitos de consumo de maneira bastante impactante. Grande parte da nossa tomada de decisão na compra de um produto ou serviço passa hoje pela internet e é feita por meio de um dispositivo móvel. As modificações são profundas, mas a que gostaria de destacar é o volume de informação que é consumido nessa jornada. Isso fica mais tangível para nós quando, por exemplo, decidimos adquirir um celular: como é uma compra que exige um investimento financeiro considerável, nos dedicamos a pesquisar, ler avaliações, comparar modelos e entender a fundo as características do produto para depois adquirir. Mas, mesmo as compras mais corriqueiras, como uma escova de dentes ou um saco de arroz, estão cheias de conteúdo que nos ajudam na tomada de decisão. Qual o arroz mais saudável, o integral ou o branco? Qual a diferença de cozimento? Como fazer arroz mais solto? Qual é a melhor marca? E vários outros questionamentos em torno do consumo desse produto que acabam por moldar o comportamento das pessoas e suas decisões de compra.
HF Brasil: Considerando-se apenas a população brasileira, existe alguma caraterística diferente do restante do mundo em relação a tais mudanças?
Fernanda: O brasileiro passa muito do seu tempo on-line nas redes sociais e gosta de produzir, compartilhar conteúdo e interagir com sua rede, seja de maneira pública ou privada. Isso pode ser comprovado por meio da velocidade com a qual os brasileiros acabam por adotar novas redes sociais, rapidamente se tornando um dos países com maior número de usuários ativos, seja no Facebook, no WhatsApp, no TikTok ou no Instagram.
HF Brasil: A intensificação do uso das redes sociais e das novas tecnologias também tem mudado a forma como as empresas buscam entender o consumidor? Isto é, as empresas hoje têm buscado novas ferramentas e metodologias para a realização de pesquisas de mercado e avaliações de tendências de consumo?
Fernanda: As redes sociais são fonte de dados riquíssimas para entender as etapas de tomada de decisão do consumidor em sua jornada de compra. Como as pessoas têm a predisposição de compartilhar suas percepções em relação às suas experiências de consumo, essas plataformas acabam agregando um grande volume de informações que, se consolidadas, estruturadas e lidas de maneira analítica podem contribuir de maneira substancial para fornecer informações preciosas para as organizações. Cada vez mais as empresas buscam maneiras de processar grandes volumes de dados para extrair deles, com velocidade e precisão, as informações que possam ser aproveitadas para gerar uma inteligência competitiva e colocá-las à frente de seus concorrentes.
HF Brasil: No setor de hortifrúti, verificamos que não há grande presença de marcas ou divulgações nas redes sociais. Quais poderiam ser os desafios ou estratégias do setor para fazer com que os HF's fiquem mais na "boca do povo", ou seja, mais presentes nas redes sociais?
Fernanda: Acredito que o grande diferencial para qualquer negócio é buscar a maneira de ser relevante para seu consumidor. Fornecer a informação correta em um momento adequado pode fazer toda a diferença para o público que acaba por conectar-se com a marca, aumentando probabilidades de recompra e fidelização. Por que eu deveria comprar em um determinado hortifrúti e não em outro? Claro, em um primeiro momento há as razões mais óbvias, ligadas ao ato em si da compra: variedade e frescor dos produtos, proximidade da residência, atendimento diferenciado. Mas, em um cenário onde o consumidor pode encontrar características muito similares de estabelecimentos, o diferencial estará na maneira como a marca consegue se comunicar com o consumidor e o quanto ela é útil e significativa para ele. Vou dar um exemplo prático: muitas pessoas realizam pesquisas sobre receitas quando estão em um hortifrúti, seja para checar os ingredientes do que desejam cozinhar, seja até para buscar inspiração. Imagine então que a marca forneça essas receitas vinculadas à sazonalidade dos produtos e/ou das ofertas? Talvez uma oferta de brócolis acompanhada de uma receita de risoto pode ser mais atraente do que só a oferta em si. Aliar essas possibilidades trazendo relevância e praticidade para a experiência de compra pode ser um grande diferencial.
HF Brasil: Ao pensarmos em alimentação, quais tendências já estão sendo observadas/aceitas no mercado brasileiro?
Fernanda: Para mim, o que tem sido marcante é a entrada no mercado nacional e internacional de produtos "plant based", ou seja, aqueles que são veganos, sem ingredientes de origem animal. Esses produtos têm chamado a atenção de grande investidores – por exemplo, Jeff Bezos (fundador da Amazon) investindo na startup chilena NotCo ou Bill Gates (criador da Microsoft), na Impossible Foods –, o que está fazendo com que eles cheguem ao mercado de maneira bem estruturada e a um preço mais competitivo do que há cinco anos, por exemplo. Esse tipo de produto acaba por atender ao crescente número de vegetarianos e veganos, que apenas no Brasil quase dobrou nos últimos seis anos, de acordo com a pesquisa Ibope de 2019. Além disso, eles também suprem uma demanda de sustentabilidade já que, comparado à produção de carnes, são bem menos agressivos ao meio ambiente.
*Fernanda Vicentini tem MBA em Gestão da Comunicação em Mídias Digitais (ESPM e extensão em Comportamento do Consumidor (FGV). Tem 15 anos de experiência em comunicação com foco em marketing digital, social media, produção de conteúdo, PR e gestão e prevenção de crises. Em agências de comunicação e publicidade, participou de projetos junto a clientes como Ambev, Bayer, Cisco, Claro, Grupo CCR, Embraer, Johnson & Johnson, Mercedes-Benz, Nestlé, Latam Airlines, Unilever, entre outros. Participou de trabalhos premiados pelo Effie Awards Latam; Effie Awards Brasil; Abemd e Webby Awards. Atualmente é diretora executiva de Social Media e Conteúdo da E/OU-MRM, parte do McCann Worldgroup.
Fonte: hfbrasil.org.br