Piracicaba, 04 – Após a crise financeira que houve na bataticultura de mesa nos anos de 2017 e 2018, devido ao excesso de oferta e, consequentemente, preços baixos, a área cultivada de batata de mesa se ajustou melhor frente à demanda, e há cinco anos, o setor vem com um mercado mais favorável ao produtor. Esse período “amargo” tornou os bataticultores mais cautelosos com aumentos repentinos de investimentos, e também afastou os aventureiros. Porém, a dificuldade após aquele período foi muito grande; muita gente quebrou. Só consegui sair daquela crise em 2020. Foram dois anos pagando os atrasados. Nosso negócio, que era 70% HF e 30 % cereais, passou para 60% cereais e 40 % HF em 2018, e foi o que segurou as pontas naqueles anos.
Assim, nesse ano, bem como nos quatro anteriores, tive rentabilidade positiva. O que melhorou? Certamente foi o juízo do produtor, que mesmo tendo rentabilidade positiva, na maior parte não aumentou a área para o mercado in natura, salvo na Chapada Diamantina. A indústria tem um papel importante também, porque muitos migraram parte dos seus plantios para esse segmento, deixando o mercado de mesa um pouco menos pressionado. Os custos também subiram muito a partir de 2019, o que desestimulou o investimento no segmento, pois o risco passou a ser muito alto.
Eu estou na bataticultura desde 1992, e jamais vi cinco anos seguidos com bons resultados, como vem ocorrendo desde 2019; os anos 2019 a 2023 foram todos positivos. Se não foi, é porque o produtor perdeu para ele mesmo. Ou seja, produtividade e/ou qualidade ruins, porque o mercado foi bom.
Em 2023, minha rentabilidade deve ficar na casa dos 40%! Meu custo médio foi de 66 mil reais/ha, enquanto minha receita foi de 93 mil reais/ha. Apesar desse resultado bastante positivo, a bataticultura atualmente não é uma atividade para amadores. O nível que se exige quanto à qualidade do produto colhido é muito grande. Além disso, para se obter um bom resultado, é necessário que se tenha uma boa produtividade, e em qualquer deslize, podemos colocar tudo a perder. Assim, conseguimos esse resultado graças à boa produtividade, que na média foi de 50 t/ha. Se tivéssemos obtido uma produtividade na casa das 35 t/ha, que é próxima ou até um pouco acima da média brasileira, teríamos empatado nossos custos com a nossa receita. E como dito, se o padrão de qualidade também não fosse bom, essa rentabilidade também cairia por terra, mesmo com a produtividade que obtive, pois o preço seria pelo menos 30% mais baixo. Assim, se meus padrões de produtividade e qualidade estivessem na média brasileira, eu certamente não teria tido esse resultado, e talvez até amargaria prejuízo.
Pensando daqui para frente, é fundamenta que se mantenha a cautela. Os últimos anos (antes de 2023) foram áureos para o setor de grãos, o que tornou esse setor muito atrativo para investimentos, afastando a ganância em se aumentar área na bataticultura (e acredito que em outras culturas de HF também). Porém a partir desse ano, os grãos já não vivem mais um bom momento, e os olhos para os investimentos certamente deverão voltar a ser para a bataticultura e outras culturas de HF.
Veja que o custo do arrendamento em 2023 foi 11% do custo total, e em 2021/22 chegou a 19-20% do custo total – justamente pela desaceleração do setor de grãos, tanto pela queda dos preços (o arrendamento é atrelado aos preços das commodities em boa parte dos contratos) quanto pela maior oferta de áreas. Os valores de arrendamento aqui chegaram a R$ 12 mil/ha, e hoje estão em R$ 5,5 mil/ha. Todos esses fatores devem fazer com que aumentem os investimentos em área de batata daqui por diante, o que poderão, daqui um tempo, resultar em uma pressão nos preços de venda do tubérculo. O crescimento da indústria é o que deve atenuar esse cenário pessimista para os próximos anos, já que deve absorver parte desse anseio em se aumentar a área cultivada com batata. Como os preços são acordados em contrato, o risco se reduz bastante.
Marcos Rogério Boschini é Engenheiro Agrônomo. Trabalhou na Cooperativa agrícola de Cotia de 1988 a 1993, e em agosto de 1993 fundou a ADF – lavoura e pecuária, onde trabalha com produção e comércio de batata, cebola, alho e cereais.