Piracicaba, 02 – A região de Pouso Alegre, no Sul de Minas Gerais, foi conhecida por muito tempo como importante produtora brasileira de batata. Ainda que a bataticultura continue importante na praça, a cultura perdeu espaço para o morango, uma fruta que tem ganhado cada vez mais adeptos.
Anteriormente, observávamos alguns produtores maiores e mais tradicionais da fruta, produzindo em regiões mais baixas no entorno da Rodovia Fernão Dias, por volta dos anos 90. Aos poucos, com o aumento da demanda pela fruta, esses produtores foram subindo a serra, ao final dos anos 90.
Além de produzir em cidades como Pouso Alegre, Cambuí e Estiva (de menor altitude), foram para regiões mais altas do Sul de Minas Gerais. No entanto, essas primeiras propriedades no alto tinham a concorrência de áreas de batata e também um gargalo logístico relacionado ao escoamento.
No caso deste segundo problema, a chegada do asfalto na serra mineira foi fundamental para dar sequência no processo de migração da batata para o morango: no início dos anos 2000, as estradas da serra foram asfaltadas, potencializando a cadeia do morango, com uma logística mais ágil entre a produção e as distribuidoras. Com isto, os produtores de maior porte foram iniciando cada vez mais novas áreas de maior altitude, por volta de 2005, em cidades como Senador Amaral, Bom Repouso, Espírito Santo do Dourado, Ipuiuna, dentre outras que antes eram consolidadas pela batata.
Ao passo que estes produtores iam tomando conta dos “morros”, a produção foi favorecida pelo clima da serra, tão logo o morango era produzido o ano inteiro com melhor aproveitamento e colheita quase que diária. Quando os produtores – até então de batata – observaram a regularidade de colheita e o alto valor agregado do morango, perceberam uma melhor aptidão para as terras da região, e os holofotes foram se virando para a fruta. Por se tratar de uma cultura de colheita quase que diária, os produtores possuem maior agilidade na recuperação de investimentos e menor risco do que na batata – já que, caso você passe por uma intempérie drástica ou uma variação negativa de preço no momento de colheita, você pode se recuperar destes problemas na semana seguinte.
Além disso, com o sucesso da fruta, a disponibilidade de mão de obra também cresceu: trabalhadores de outros estados optavam pelos “túneis” de morango ao invés das lavouras de batata, por conta da maior segurança de vínculo, devido à constância do ciclo de produção – na batata, a maior demanda de trabalhadores se concentra em plantio e colheita, enquanto no morango a necessidade de funcionários é maior, algo que chamou a atenção dos trabalhadores nas roças. Desta forma, a cultura foi levando vantagem em relação à batata na região, nos pilares de demanda acentuada, potencial produtivo das áreas mais altas, disponibilidade de mão de obra e capacidade logística.
Ronaldo Herculano de Lima é engenheiro agrônomo e consultor na cultura do morango.