Piracicaba, 10 – Em 2023, a queda nos custos do tomate vem sendo mascarada (pelo menos em parte) pelo aumento do uso de enxertia, uma técnica de produção de mudas mais cara que a convencional. Apesar disso, é uma tecnologia que vem aumentando bastante em adesão, dados os benefícios que traz. Em algumas regiões, a adesão já é bastante expressiva, e para aquelas onde ainda não é, o aumento também vem acontecendo rapidamente.
Embora a enxertia seja uma técnica antiga, a tecnologia agregada à produção de mudas de tomate é moderna, e com isso a adaptação não é tão simples, por diversos motivos. A primeira dificuldade se inicia já nos viveiros, que necessitam estar adaptados para a mudança na produção de mudas, precisando haver entendimento e domínio da nova operação/tecnologia. É preciso uma maior estrutura frente à da produção de mudas convencionais e aumento da equipe (que deve ser treinada e especializada para operar).
Como vem ocorrendo um aumento muito acentuado e rápido na demanda por mudas enxertadas, os viveiros vêm encontrando dificuldade para atender toda essa expressiva e repentina demanda em tempo hábil – inclusive porque o tempo de formação de uma muda aumenta bastante, já que é necessário a formação de duas mudas, para depois a junção delas (enxertia), e um tempo para a cicatrização dessa nova planta formada e seu pleno desenvolvimento. Toda essa ampliação operacional, técnica, estrutural e de insumos explica o aumento expressivo nos custos de produção das mudas.
Em áreas que já receberam o cultivo de tomate, e principalmente se esse cultivo ocorreu com pouco tempo de rotação com outras culturas, a enxertia vem sendo fundamental. Neste caso, é necessário escolher o material que melhor se adapta à necessidade: por exemplo, se a demanda é por materiais resistentes ou tolerantes a Ralstonia, raça 3 de Fusarium ou nematoides, e até mesmo já se fala em materiais resistentes a Verticillium. Há também materiais para enxertia que têm como foco o aumento do vigor da planta, que promove ganho de produtividade e qualidade dos frutos, com por exemplo o aumento do calibre do tomate.
Como o manuseio das mudas é grande, e são abertos os tecidos das plantas para a realização da técnica, é necessário que haja um nível de assepsia bastante grande, a fim de evitar possíveis contaminações, como por exemplo viroses que são transmitidas pelo contato. É necessário cuidado com os materiais que são utilizados para o corte e aumento da ventilação no viveiro.
Mas não é só no viveiro que há necessidade de maiores cuidados e treinamento da mão de obra para as operações. No campo também há essa necessidade, e começa desde o transplantio, onde deve-se tomar cuidado para que a parte da muda onde há a cicatriz da enxertia fique longe do solo, para que não ocorra o enraizamento da copa, o que anularia a tecnologia adotada. Além disso, a mão de obra deve ser treinada também para os tratos culturais, sobretudo nas operações de desbrota, pois geralmente o cavalo solta brotos mais vigorosos que a planta comercial, dada sua maior rusticidade, o que induz o operador a acreditar que tais brotos irão produzir melhores frutos. Se não treinado, o operador acaba mantendo esses brotos e eliminando os da copa, que tem tecnologia desenvolvida para produção de frutos.
Outro cuidado na desbrota é que, como a planta forma brotos vigorosos, deve ter atenção em não deixar esses brotos crescerem demais, pois nesse caso há o risco de lascar, expondo o tecido da planta, que se torna uma porta de entrada para patógenos.
João Roberto do Amaral Junior é Engenheiro Agrônomo e Responsável Técnico do Grupo Irmãos Andrade, de Monte Mor SP.