Piracicaba, 25 – No que se refere ao consumo de alimentos, algumas tendências estão em evidência. Uma delas é o conceito de sustentabilidade. Há alguns anos atrás, sustentabilidade era associada basicamente à reciclagem, e atualmente o conceito tem evoluído. A sustentabilidade começou a virar uma identidade dos consumidores, e com o avanço da internet, eles passaram a entender melhor o que realmente significa o termo e, principalmente, que uma ação individual não é suficiente para a efetividade das ações sustentáveis, precisando de ações das grandes marcas.
No futuro, a sustentabilidade deve ganhar um destaque cada vez mais interessante se ela for democrática, porque um dos grandes problemas atuais da sustentabilidade é que ela tem um custo, que em geral é caro, tanto para as empresas quanto para os consumidores. Então, ela deve ser democratizada, estando acessível para todos.
Outro pilar importante é a inteligência artificial. Algumas empresas já estão usando a ferramenta para criar formulações de seus produtos mais rapidamente, e com base em dados e interesses do consumidor, de acordo com o público alvo. Pensando em frutas e hortaliças, ainda existe um potencial muito inexplorado, podendo ser utilizada para avanços genéticos que possam permitir a introdução mais rápida de mudanças necessárias na agricultura.
O bem-estar pessoal e a saúde mental também são tópicos em evidência. A pandemia trouxe a saúde para o centro do debate, mas também cresceu o consumo de bebidas alcoólicas e snacks como forma de indulgência. Então, existe a busca por saudabilidade, mas também a por indulgência. Para o setor de frutas e hortaliças, o desafio é aliar os dois; por exemplo, como fazer com que as frutas se tornem um snack indulgente?
Outro ponto importante é que, no pós-pandemia, houve mudanças no estilo de vida do consumidor, trocando refeições completas por salgados por conta da correria, e no caso das frutas e hortaliças, o desafio é adaptar a categoria para este estilo de vida com cada vez menos tempo disponível para o preparo dos alimentos.
Então, os desafios são trazer a indulgência para a alimentação e facilitar a vida do consumidor, tentando economizar o tempo dele onde é possível. Porém, o ideal é que o consumidor cozinhe, não apenas para que a sua alimentação seja mais saudável, mas também para que ele tenha um entendimento e respeito ao produtor, se sentindo mais parte da cadeia.
TikTok – O crescimento do TikTok no mercado brasileiro tem alguns motivos. O consumidor brasileiro tem uma característica de aceitar recomendações de familiares, amigos ou pessoas que ele se identifica, porém é mais descrente à publicidade de celebridades ou de grandes empresas. Então, as trends podem ajudar a aumentar a propensão do consumidor a experimentar alimentos, como uma fruta exótica do Brasil, por exemplo. Além disso, o TikTok se tornou uma ferramenta de pesquisas, como por exemplo, para saber a recomendação de consumidores sobre um restaurante.
Temos também, há alguns anos, uma tendência que não é nova, mas que tem tomado novos rumos, que é a do consumidor polarizado, como em questões ideológicas e morais, e isso afeta as decisões de compra, com boicotes a empresas e marcas, por exemplo. Neste sentido, é um desafio para as marcas o “como se posicionar?”. E isso também faz com que a empresa seja vista não apenas como uma corporação, mas como pessoas que estão por trás desta corporação, atraindo pessoas por se identificar, e se conectando com a empresa e com os produtos.
Rodrigo de Mattos é consultor de pesquisa da Euromonitor Brasil.