Piracicaba, 1º - Confira um resumo, publicado na edição de fevereiro da Revista Hortifruti Brasil, dos principais impactos do clima nas culturas de batata, tomate, cenoura, cebola e alface:
BATATA: La Niña favorece produção de grande parte do Sul do País
SUL: Na temporada das águas 2022/23, o volume de chuva no Sul do Brasil, sobretudo no Rio Grande do Sul, está limitado pelo segundo ano consecutivo, o que, assim como observado em 2022, beneficia a produção de batatas. No geral, apenas poucos talhões do estado gaúcho tiveram problemas, devido às chuvas escassas no final do ciclo. Já no Paraná e em Santa Catarina, ainda que abaixo do normal, o regime pluviométrico em 2023 está maior que no ano anterior. Assim, de um modo geral, a produção nestes estados do Sul foi considerada boa frente à média histórica. Dentre os casos em que houve problemas relacionados ao clima, alguns produtores da região de Guarapuava (PR) relataram chuvas e menores temperaturas e fotoperíodo na atual temporada 2022/23, que resultaram em batatas mais miúdas, com matéria seca abaixo do ideal. Diante disso, a produtividade neste começo de 2023 na região paranaense está inferior à registrada no mesmo período do ano passado. Em Ponta Grossa (PR), o ciclo da batata foi estendido e o período de tuberização, prejudicado, atrasando o calendário de colheita da região. Além disso, alguns colaboradores relataram que a chuva causou perdas de áreas, devido ao alagamento em parte do campo, ocasionando quebra de produção. As precipitações e temperaturas mais baixas elevaram a incidência de requeima em todas as praças paranaenses e também em Água Doce (SC).
SUDESTE: No Sul e Cerrado Mineiros, houve excesso de precipitações entre dezembro/22 e janeiro/23, o que dificultou o pleno andamento da colheita das primeiras áreas da safra das águas e gerou um atraso no calendário de oferta. Colaboradores afirmaram que o clima também aumentou a incidência de requeima, de alternária e de canela-preta, doenças que acabaram afetando as batatas que ainda não haviam finalizado o ciclo. Apesar de o acumulado de chuva no segundo semestre de 2022 ter sido menor no Sudeste, as lavouras do início da temporada de inverno ainda apresentaram problemas relacionados ao clima chuvoso na primeira metade do ano (houve atraso no plantio).
NORDESTE: Na Chapada Diamantina (BA), chuvas abundantes entre novembro e dezembro/22 elevaram a incidência de requeima nos campos, aumentando a necessidade de tratamentos fitossanitários. Além disso, a qualidade dos tubérculos – que estava excelente até outubro – diminuiu significativamente no período das chuvas de verão 2022/23, reduzindo a produtividade nas lavouras.
TOMATE: Chuvas acima da média NE/SE prejudicam o fruto
NORDESTE: Apesar de ser comum o clima chuvoso ao longo do verão, em 2022/23, o La Niña tem deixado as precipitações acima da média – mas estas ainda estão abaixo das registradas em 2021/22. Assim, produtores de Chapada Diamantina (BA) registram problemas relacionados à ocorrência de mancha-de-estenfílio e requeima neste início de 2023. As limitações produtivas impostas pelas doenças e a qualidade inferior dos tomates reduzem a oferta da praça baiana. Por outro lado, a maior umidade em Irecê (BA), que também comercializa frutos durante o ano todo, é apontada como positiva por produtores. Houve casos de doenças, mas foram controladas. Há anos, o principal problema em Irecê é a traça. Com as chuvas ocorridas sobretudo entre novembro e dezembro de 2022, a população do inseto diminuiu, favorecendo produtores da região baiana, que normalmente intensificam os plantios no verão.
SUDESTE: Produtores das regiões de Itapeva (SP), Nova Friburgo (RJ) e Venda Nova do Imigrante (ES) relatam que a maior umidade resultou em aumento de doenças e problemas com a qualidade dos tomates. Entre os patógenos, predominam os responsáveis por causar manchas e pintas foliares, sendo as bactérias dos complexos Xanthomonas spp. e Pseudomonas spp. as mais recorrentes. Com isso, o calibre dos tomates colhidos nos últimos meses está abaixo do ideal, fator que também foi prejudicado nestas praças pelo predomínio de dias nublados até a primeira quinzena de janeiro. Diante disso, a produtividade está abaixo da esperada no Sudeste.
SUL: As lavouras de praças como Caçador (SC) e Urubici (SC) apresentam bom desenvolvimento, devido ao clima menos chuvoso. Com a intensificação da colheita a partir da segunda quinzena de janeiro e sem registros de impasses produtivos, as perspectivas em relação à produtividade nesta safra são positivas. Em Caçador, houve registros de granizo na última semana de dezembro e na primeira quinzena de janeiro. Apesar de alguns produtores terem relatado perdas significativas devido ao evento climático, quando comparadas à área total da região, os danos são pequenos e, portanto, não influenciaram a oferta de tomate na praça catarinense. A situação das lavouras de Caxias do Sul (RS) é similar à observada em Santa Catarina, com apenas poucos casos de doenças e pragas, como tripes, mosca-branca e traça.
CENTRO-OESTE: Em Goianapólis (GO) vem chovendo bastante desde dezembro, o que prejudica a produção de tomate. Os principais problemas relatados por colaboradores são as manchas bacterianas e septoriose. A qualidade dos frutos também está abaixo do ideal.
CENOURA: Clima, no geral, influencia negativamente a raiz
Em São Gotardo (MG), principal região produtora de cenoura do País, chuvas entre o final de 2022 e este início de 2023 preocupam agricultores quanto ao desenvolvimento e à colheita da safra de verão 2022/23. Por conta do solo úmido, as atividades de campo e a oferta foram limitadas, tendo em vista que muitos agricultores não conseguiram entrar com o maquinário no campo. Precipitações em Cristalina (GO) também resultaram em dificuldades no plantio e na colheita. Além disso, o clima elevou a incidência de mela, desfavorecendo a qualidade das raízes e aumentando o descarte. Em Irecê (BA), chuvas volumosas prejudicaram a produção e a qualidade no último trimestre de 2022 e afetaram o semeio da temporada de verão. Por outro lado, em Caxias do Sul (RS), o baixo volume de chuva causado pelo fenômeno preocupa produtores pela falta de água nos reservatórios. Mesmo com sistema de irrigação, a crise hídrica dificulta a disponibilidade de água nas lavouras, fazendo com que as cenouras não se desenvolvam bem no período ideal.
CEBOLA: La Niña favorece colheita no Sul, mas afeta produção no Nordeste
No Sul, a qualidade da cebola foi prejudicada pelo florescimento, devido à exposição da cultura a temperaturas baixas no período de desenvolvimento, próximo da colheita, em novembro. Como resultado, a qualidade das primeiras cebolas comercializadas foi limitada, mas, com o clima mais seco em meados de dezembro e janeiro, a colheita na região foi favorecida. Assim, os bulbos colhidos entre o final de dezembro e janeiro registaram boa qualidade, favorável para o armazenamento. Já no Nordeste, as chuvas acima do esperado reduziram a qualidade da safra e limitaram o plantio – em Irecê (BA), houve incidência de antracnose, prejudicando a cebolicultura. O plantio, por sua vez, foi adiado, visto que as precipitações dificultaram os trabalhos no campo. Outras duas regiões que enfrentaram problemas no início do plantio, resultantes do clima chuvoso, foram Cristalina (GO) e Triângulo Mineiro (MG), onde os produtores buscaram adiantar a semeadura da safra para o início de janeiro, mas foram impossibilitados, postergando para as semanas seguintes.
ALFACE: Aumento das chuvas prejudicam produção no Sudeste
O aumento do volume de chuva em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais atrapalhou o desenvolvimento dos pés da safra de verão e elevou a incidência de doenças típicas do período, como bactérias e fungos. Esse cenário resultou em diminuição na qualidade e aumento no descarte. Desta forma, produtores podem novamente enfrentar dificuldades no cultivo das folhosas nesta temporada de verão, mas tudo dependerá do comportamento do clima de fevereiro em diante.
Fonte: hfbrasil.org.br