Piracicaba, 05 – A GESTÃO ORIENTADA AO CICLO FENOLÓGICO DA CULTURA foi desenvolvida pela Escola Cooperativa Terra Lean, da Terra Ideal, cooperativa educacional que desenvolve inovação na área de gestão das propriedades de frutas e hortaliças no Brasil. A base da sua metodologia é o “Pensamento Lean”, e os principais conceitos estão expostos no livro “Excelência Operacional na Horticultura: Introdução à Gestão Orientada ao Ciclo Fenológico com base no Pensamento Lean”, dos autores Henrique Zaparoli Marques e Felipe Garcia Zumkeler, publicado em 2023 (disponível para a compra no site da Cooperativa Terra Lean), com apoio do Instituto Brasileiro de Horticultura (Ibrahort).
Os autores reforçam que é importante que as propriedades agrícolas criem um sistema gerencial que garanta sincronicidade de todas as operações, reduza desperdícios e evite sobrecarga de funcionários. Em resumo, todos os processos são organizados para que a planta tenha o melhor suporte para produzir. Henrique Zaparoli Marques, um dos idealizadores da Terra Lean, declarou à Hortifruti Brasil: “Hoje temos muita tecnologia e potencial produtivo para a planta se desenvolver: sementes, defensivos, fertilizantes e maquinário. Na maioria das vezes, esse potencial não é plenamente aproveitado ao máximo porque o planejamento das atividades não foi feito de forma correta e no momento certo. A gestão não deve ser orientada para cortar gastos, mas organizar processos visando diminuir desperdícios e aproveitar melhor os recursos, como a mão de obra”. Os autores também adaptaram a “casinha da Toyota” para resumir os principais conceitos do Pensamento Lean. A diferença é que os autores seguiram o conceito da linha de montagem do carro para organizar processos muito mais dinâmicos e complexos, como é a produção e comércio das frutas e hortaliças.
O ciclo fenológico da casa é construído como a base do telhado. O conceito básico, segundo os autores, é que todas as operações de uma propriedade rural precisam acontecer dando suporte para que a planta expresse o seu máximo de potencial produtivo, sem desperdício e com o menor custo possível, maximizando os resultados. Os autores ressaltam a importância do planejamento das operações sincronizadas com as etapas fenológicas do desenvolvimento de uma cultura.
O telhado da casa é o CLIENTE. O objetivo da propriedade é a produção e a comercialização, visando atender à demanda e criar valor para o cliente. E os autores vão muito além da ponta final, ressaltando a importância de atender todos os colaboradores interessados pelo empreendimento (fornecedores, funcionários, proprietários, feirantes/varejistas e o consumidor em geral). Mas, o que é atender aos interessados? É entender como você atende suas necessidades (dores) e, principalmente, solucioná-las. Facilitar a vida dos interessados com melhorias no processo é um grande aprendizado atualmente para os empreendedores rurais, conforme salienta Marques. Ao focar numa produção de alta qualidade de cenoura, por exemplo, a produção aumenta o valor ao cliente (varejo), pois dará um produto melhor ao consumidor e proporcionará mais tempo de prateleira. O mesmo valor deve ser dado aos funcionários. Eles demandam reconhecimento, bons salários e desenvolvimento pessoal.
- GESTÃO DOS FUNCIONÁRIOS – Segundo Marques, é preciso entender as necessidades dos contratados e é essencial gerir processos que facilitem e ampliem sua produtividade. “Se o produtor contrata muitos safristas, temos que entender qual é o objetivo deles, como eles ganham por produtividade e deve-se organizar o trabalho dele de uma forma que não ocorram variações (percalços) que limitem seu ganho”, completa Marques.
Outro ponto importante é o desenvolvimento de lideranças preparadas para gerir pessoas, processo que é o coração da casinha no Pensamento Lean voltado a propriedades de frutas e hortaliças. As lideranças muitas vezes não sabem trabalhar com pessoas na propriedade. Segundo Marques, “precisamos melhorar principalmente a liderança operacional. Nem sempre o melhor operador de máquinas será um bom líder”. Um dos cooperados da Terra Ideal, que aprendeu a criar processos de melhorias dos funcionários, segundo Henrique Marques, optou por voltar à colheita manual, por conta dos danos mecânicos e do bom resultado do aprendizado no processo e no rendimento da colheita manual.
GESTÃO DE FLUXO
O Pilar 1 trata da GESTÃO DE FLUXO, ou seja, de todas as operações que precisam acontecer para dar suporte para que a planta expresse o seu máximo de potencial produtivo, sem desperdício e com o menor custo possível. O conceito é criar um fluxo em que o trabalho seja mais rápido, fácil, melhor, rápido e, consequentemente, mais barato, ao mesmo tempo que atenda ao resultado esperado pelo cliente/planta. Para conseguir organizar o FLUXO, é de suma importância uma gestão diária das atividades, garantindo que todos os envolvidos saibam o que é preciso ser feito e com os recursos corretos (insumos, mão de obra e maquinário). A gestão diária das atividades também permite evidenciar os empecilhos da não execução do planejamento, e resolvê-lo de forma mais rápida.
Reunião matinal – A gestão diária dos processos é a chave para minimizar erros e conseguir maior sincronicidade das atividades que a planta precisa para desenvolver. A organização de quadros do planejamento das atividades e a discussão com todos os envolvidos sobre a rotina de atividades são essenciais. Segundo Henrique Marques, “reuniões matinais são uma forma de capacitar e promover a comunicação aberta entre as pessoas, levantando problemas que aconteceram e incentivando cada um a pensar em como fazer com que eles não ocorram novamente. Começar o dia com esse ritual faz com que as pessoas trabalhem com uma mentalidade orientada para a melhoria contínua ao longo de todo o dia”.
Foto: Acervo Terra Ideal.
JIDOKA
O Pilar 2 é a adaptação do conceito JIDOKA. Segundo os autores do livro, o ERRO é um grande aprendizado, e a recomendação é parar o processo imediatamente quando um problema é encontrado – e não empurrá-lo para frente. No caso agrícola, em que o produto é biológico, não é possível refazer o produto como um carro, mas pode-se corrigir – de forma imediata – os processos e minimizar desperdícios/danos. Para conseguir colocar o JIDOKA em prática, é importante dar autoridade e preparo para as pessoas envolvidas diretamente ao problema e capacitá-las para que possam enxergar os problemas e corrigi-los. Marques ressalta a importância de se dedicar de 15 a 30 minutos diários à equipe para propor soluções de melhorias. “Esse tempo não é apenas um investimento nas operações da empresa, mas, mais importante, um investimento nas habilidades e capacidades de sua força de trabalho”.
GEMBA – uma das formas de capacitar os colaboradores/funcionários a enxergarem os erros é realizar treinamentos, para que a equipe saiba o que é normal ou não no local (in loco). Por exemplo, uma correção e/ou inclusão de processos de melhorias no espaçamento da linha de plantio de um viveiro deve ser feito in loco. Muitas vezes, é importante gravar o plantio, mostrar o vídeo aos envolvidos, para que prováveis erros e melhorias sejam discutidos. Para isso, é necessário entender o conceito GEMBA, isto é, “lugar real”, que é o chão de fábrica da montadora e, no caso da produção de frutas e hortaliças, a fazenda ou a packing house.
ESTABILIZAÇÃO, NIVELAMENTO E MELHORIA CONTÍNUA
No PISO da casa está o processo estabilizado, ou seja, a fazenda está sendo gerenciada com pouco desperdício e as pessoas estão num sistema organizado e bem planejado. No entanto, o processo não tem fim e é preciso monitorá-lo sempre. Pode-se dizer que o Pensamento Lean é uma mudança da cultura organizacional da propriedade, que leva tempo e precisa de muito empenho dos proprietários para que seja bem-sucedida e contínua.
Para saber mais sobre a importância da gestão em propriedades de HF, leia a matéria de capa completa da edição de agosto da revista Hortifruti Brasil.
Fonte: hfbrasil.org.br