Piracicaba, 19 - A bataticultura vem sendo uma atividade lucrativa há, pelo menos, seis anos. E o ano de 2024 pode ser considerado como um dos melhores para o setor, mesmo diante de problemas na produção na maior parte das regiões e do consequentemente aumento dos custos unitários.
Nos primeiros anos desse ciclo de bonança, a partir de 2019, foi a redução da área cultivada com batata que permitiu um melhor controle da oferta (a atividade enfrentou, em 2017 e 2018, talvez a pior crise financeira no setor in natura, com preços constantemente abaixo dos custos de produção, resultado do excesso de oferta diante do aumento de área cultivada e da produtividade elevada). Esse período mais difícil fez com que produtores reduzissem os investimentos com sementes nos anos seguintes, o que controlou a oferta e diminuiu a produtividade.
À medida que o produtor voltou a se capitalizar a partir de 2019, os investimentos em sementes voltaram a ocorrer. Nesse período, a forte expansão da indústria de pré-frita estimulou um acentuado aumento de área, mas a forte demanda nesse segmento “segurou” a disponibilidade do tubérculo ao mercado de mesa. Em alguns momentos, inclusive, quando a área contratada pela indústria era insuficiente para atender à demanda, as processadoras também se lançavam como compradoras no mercado spot, o que controlou a oferta e, consequentemente, elevou os preços.
Também nessa época, foram verificados problemas na importação de sementes (que desestimularam um pouco os produtores a aumentar a área de cultivo com o tubérculo), menor produtividade (diante de problemas na produção), dificuldades em encontrar áreas para arrendamento (devido ao aumento da demanda por terras), expressivo aumento dos custos de produção (que causou receio nos produtores em incrementar a área, mesmo nos casos dos mais capitalizados), pandemia de covid-19 (que também limitou expansões nas áreas dadas às incertezas do período) e fatores políticos e econômicos.
Em 2024, parte de todos esses fatores acima foi novamente verificado, mas a oferta se manteve bastante controlada, e os preços atingiram patamares recordes reais, considerando-se a série histórica do Hortifrúti/Cepea, iniciada em 2001. Assim, o aumento de área diante da crescente demanda da indústria de pré-frita continuou limitando a expansão para o mercado de mesa, já que muitos produtores capitalizados concentraram suas expansões de área dedicada ao setor industrial. As fábricas compraram, em 2024, bastante batatas fora do contrato, fato que reduziu a oferta no mercado in natura e fez com que os preços seguissem em bons patamares ao produtor. A oferta limitada de semente básica, devido a questões técnicas e burocráticas no Brasil, além da oferta global apertada, também controlou a expansão da área de mesa. Problemas climáticos afetaram a produção, reduzindo ainda mais a oferta e a qualidade das sementes, resultando em menor potencial produtivo. O clima, que tem sido bem adverso neste ano, também prejudicou a produção das áreas destinadas ao consumo in natura.
Nos primeiros meses do ano, praças do Sul, principalmente no Rio Grande do Sul, tiveram suas produtividades afetadas pelo excesso de chuvas, tanto na safra das águas 2023/24 quanto na das secas 2024. Para a de inverno, muitas sementes vieram com baixo rendimento, dado o forte calor desde setembro de 2023. Assim, parte das sementes foi perdida, limitando a área de cultivo, mas outra parte que chegou a ser plantada teve seu potencial produtivo reduzido, devido a questões sanitárias e ao estresse fisiológico. O forte calor que se iniciou em setembro e 2023 e se estendeu até 2024, além de prejudicar as sementes, também afetou as primeiras áreas destinadas ao mercado de mesa. A escassez de chuva na maior parte das áreas cultivadas nesse período foi outro fator que limitou a produtividade, seja por questões fisiológicas da cultura, como evapotranspiração, ou por não haver água em níveis suficientes para uma irrigação adequada.
Para saber mais sobre o "Especial Batata", leia a matéria de capa completa da edição de novembro da revista Hortifruti Brasil.
Fonte: Hfbrasil.org.br